A economia brasileira cresceu 1,9% nos primeiros três meses do ano em comparação com os três meses imediatamente anteriores — um crescimento acima do que vários analistas de mercado esperavam.
Os números foram divulgados pelo IBGE nesta quinta-feira (1/6).
Os dados mostram que a agropecuária foi o “motor” do crescimento brasileiro no início de 2023 — com expansão de 21,6% nos três primeiros meses do ano em comparação com o último trimestre de 2022. O setor de serviços também registrou alta, de 0,6%. Já a indústria teve uma leve queda de 0,1% na atividade.
Enquanto o Brasil começou 2023 com crescimento acima do projetado por analistas de mercado, que previam expansão em torno de 1,3%, alguns países parecem estar diante de um cenário mais complexo.
No Brasil, o boletim Focus — que contém as previsões semanais feitas pelo mercado financeiro brasileiro e é divulgado pelo Banco Central — vem mostrando redução nas expectativas de inflação. O mercado brasileiro acredita que a inflação de 2023 terminará em 5,71% e que a taxa de juros cairá dos atuais 13,75% para 12,5%.
Nos últimos doze meses, a economia brasileira cresceu 3,3%, na comparação com os quatro trimestres imediatamente anteriores.
No resto do mundo, algumas das economias têm registrado fraco crescimento econômico. A Alemanha recentemente confirmou que está em recessão técnica. O Reino Unido escapou de uma recessão até agora, mas seu PIB vem crescendo a uma taxa de apenas 0,1% nos últimos dois trimestres consecutivos. Os EUA confirmaram crescimento abaixo do esperado no primeiro trimestre deste ano, e diversos analistas debatem até mesmo uma recessão americana ainda neste ano.
Entre os emergentes, Índia e China continuam registrando fortes taxas de crescimento — ambas superiores ao Brasil
Ano difícil para economia mundial
Em seu relatório de abril, o FMI fala que a esperança de que haveria uma recuperação suave do mundo em 2023 não está se confirmando. Em vez de inflação caindo e crescimento voltando, o mundo vê hoje uma inflação alta e tremores nos mercados financeiros, segundo o Fundo.
O FMI agora prevê que a inflação mundial — que foi de 8,7% em 2022 — deve cair para 7% ao final deste ano. Os níveis pré-pandêmicos de inflação e juros só viriam em 2025, de acordo com o Fundo.
A economia mundial vive um contexto de muita incerteza sobre o futuro. O mundo inteiro sofreu fortemente com a pandemia de coronavírus, que desde 2020 provocou desemprego e fechamento em massa de amplos setores da economia mundial.
Em alguns países, a recuperação foi relativamente rápida, e os níveis econômicos pré-pandemia foram reestabelecidos.
No entanto, desde o ano passado, muitas dessas economias estagnaram. Isso se dá, em parte, por uma nova crise provocada desta vez por inflação alta. A pandemia desorganizou as cadeias internacionais de produção em um momento em que houve aquecimento do consumo no mundo todo, com o fim do momento mais drástico da pandemia. Com escassez de oferta, muitos preços dispararam.
Diversos lugares — como no Brasil, Europa e EUA — passaram a enfrentar as chamadas crises de custo de vida.
Em países como Reino Unido e EUA, a inflação atingiu o maior patamar em 40 anos. Para controlar os preços, os bancos centrais no mundo todo começaram a aumentar suas taxas de juros — o que provoca desaceleração econômica, por aumentar os custos de investimentos para empresas. A inflação alta também tem provocado greves gerais na Europa.
O cenário ficou ainda mais complexo com o início da guerra da Ucrânia no ano passado — que abalou preços de commodities — e com crises bancárias localizadas este ano.
Economistas não sabem dizer exatamente o que pode acontecer de agora em diante. O único consenso é que o futuro imediato não é promissor.
“A previsão é que o crescimento [da economia mundial] caia de 3,4% em 2022 para 2,8% em 2023, antes de establizar em 3% em 2024. Espera-se que as economias avançadas vejam uma desaceleração de crescimento especialmente pronunciada, de 2,7% em 2022 para 1,3% em 2023”, escreveu o FMI no seu relatório de abril sobre as perspectivas da economia global.
Alguns acreditam que o ciclo de aumento dos juros pode estar perto do fim em alguns países.
No Brasil, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva vem criticando o Banco Central — presidido por Roberto Campos Neto — por manter os juros no patamar mais alto dos últimos anos.
Há quem preveja que esse cenário de juros altos e crescimento baixo vai continuar por alguns meses no mundo — e há até quem diga que países como os EUA podem entrar em recessão em breve. No mês passado, a Alemanha anunciou que está em recessão técnica (dois trimestres consecutivos de crescimento negativo).
A recuperação mundial passa pela queda da inflação, que tem respondido lentamente aos juros altos. Mas até agora não houve sinais claros em nenhum país de que a inflação pode cair.
EUA em recessão?
A maior preocupação no mundo hoje é com o lento ritmo da maior economia — a dos Estados Unidos. A economia americana se recuperou relativamente rápido da crise do coronavírus, mas agora vive momentos de incerteza.
Nos primeiros três meses do ano, a economia americana cresceu a um ritmo anualizado de 1,1% — muito abaixo da projeção próxima de 2% da maioria dos economistas.
Nos trimestres anteriores, a economia americana estava crescendo em um ritmo anualizado muito mais acelerado — de 2,6% (quarto trimestre de 2022) e 3,2% (terceiro trimestre de 2022).
O consumo das famílias — que é o principal motor da economia americana — segue em alta. No entanto, todos os setores parecem estar sofrendo com o esforço das autoridades monetárias de baixar a inflação com um ciclo de alta de juros.
O banco central americano aumentou os juros americanos em dez reuniões consecutivas — atingindo a faixa de 5% a 5,25%.
A bolsa americana tem mostrado pouco otimismo em relação ao futuro. O Dow Jones está no patamar de 33 mil pontos este mês — o mesmo do começo do ano. Entre 2020 e 2022, durante a pandemia, o Dow Jones chegou a subir 75% — partindo de cerca de 20 mil para cerca de 35 mil pontos.
Agora há diversos sinais de que a economia americana está em um ciclo de deterioração: a produção industrial e os empréstimos bancários estão em queda. O setor bancário teme uma crise devido à quebra de bancos médios. Grandes empresas seguem promovendo demissões em massa. Há economistas que preveem uma recessão para o final deste ano.
“Continuamos esperando uma leve recessão técnica nos EUA, com duas contrações consecutivas no segundo e terceiro trimestres”, disse a consultoria Economist Intelligence Unit.
Uma recessão nos EUA teria impacto em todo o mundo, dada a importância do mercado americano para o comércio e finanças internacionais.
Outros países
A economia britânica escapou por pouco de uma recessão técnica.
O PIB do Reino Unido cresceu 0,1% no primeiro trimestre deste ano — o mesmo ritmo registrado no último trimestre do ano passado. Para este ano, o Banco Central da Inglaterra acredita que a economia seguirá estagnada no primeiro semestre, com recuperação no segundo. A previsão é levemente mais otimista do que a feita em fevereiro, quando o banco previa recessão para o Reino Unido.
Ao contrário do resto da Europa e dos EUA, foi só recentemente que a economia britânica conseguiu atingir os níveis pré-pandemia. O Reino Unido tem hoje a pior performance econômica entre as sete maiores economias do mundo. Na zona do euro, o PIB cresceu 0,1% neste ano.
Os dois gigantes emergentes — China e Índia — seguem registrando fortes índices de crescimento.
Na quinta-feira (31/5), a Índia informou que sua economia cresceu 6,1% no primeiro trimestre deste ano em comparação com o último trimestre do ano passado — algo atribuído aos setores de serviços e indústria.
Já o PIB da China cresceu 4,5% no primeiro trimestre do ano — superando expectativas do governo e a performance recente da economia chinesa.
Diferente da maioria dos demais países do mundo, a economia chinesa continuou sofrendo com a pandemia de coronavírus e com lockdowns ao longo de 2022. No ano passado, a economia chinesa havia crescido apenas 3%.
O Banco Goldman Sachs prevê que 2023 será um ano de retomada da economia chinesa, com possibilidade de crescimento de 6%. Economistas acreditam que o governo da China deve anunciar novos estímulos para investimento neste ano.
Fonte: BBC
Comentários: