Aliando crescimento constante e sustentabilidade, o agronegócio tem chamado a atenção dos investidores do mercado de capitais, que começaram a interessar-se pelo agro sustentável, na hora de diversificar suas aplicações.
A curto prazo, analisando dados recentes do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) de 2020 observa-se que devido a pandemia, todos os setores (indústria, construção civil, comércio e serviços) tiveram resultados negativos no PIB, o agro foi o único setor a apresentar números positivos, sendo responsável por 26,6% do total do PIB brasileiro. A perspectiva para o setor é positiva, a CONAB (Companhia Nacional de Abastecimento) prevê uma safra de grãos 20/21 recorde de 273,8 milhões de toneladas, 16,8 milhões de toneladas superior à safra 19/20. A taxa de câmbio e aumento da demanda de grãos mantêm valorizados os preços e devem proporcionar bons rendimentos aos investidores.
A longo prazo, o representante da FAO (Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura) Alan Bojanic declarou que a agricultura mundial terá de ampliar em 70% a produção de alimentos até 2050, para atender às necessidades de uma população estimada de 9,7 bilhões de pessoas. Ainda segundo a FAO, a expectativa é que o nosso país será responsável por 40% da produção adicional futura de alimentos mundial.
O setor traz resultados e sustentabilidade, exigências do mercado de capitais e da sociedade. Dados de estudo realizado pela Embrapa Territorial (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária), confirmados pela NASA (National Aeronautics and Space Administration), comprovam que a produção agropecuária ocupa 30% do território nacional, enquanto 25% de toda área preservada no país se encontra dentro de propriedades rurais. As ações do setor do agronegócio, devido ao alinhamento às exigências de ESG (do inglês, governança ambiental, social e corporativa), têm enorme possibilidade de atrair investidores nacionais e principalmente estrangeiros.
Apesar de ser um esteio da nossa economia, o agro é sub-representado no mercado de capitais. A sua participação na B3 (Bolsa de valores oficial do Brasil), não chega a 5% do valor de mercado da bolsa. Bruno Cerqueira, sócio de mercado de capitais do Tauil & Chequer Advogados, em reportagem ao “Valor Econômico” afirmou: “O setor imobiliário corresponde a 5% do PIB, e o agronegócio a 30%, ou seis vezes mais. Isso pode se reproduzir na demanda [pelos papéis]”.
O Índice BrasilAgro, índice das ações das companhias do agronegócio listadas na B3, teve uma alta de aproximadamente 60% no último ano. Existem 28 empresas do setor listadas e o valor total das empresas, de acordo com o “Valor Econômico”, é de cerca de R$ 150 bilhões, ainda pequeno, quando comparado com a capitalização do Ibovespa que é da ordem de R$ 4 trilhões. O papel de coadjuvante do setor no mercado de capitais está a caminho de mudar, se espera um boom de IPOs (Oferta Pública Inicial) do agro nos próximos anos.
Entre as opções de investimento no agronegócio estão os Títulos de Renda Fixa: LCA, Letra de Crédito do Agronegócio e CRA, Certificado de Recebíveis do Agronegócio, ambos isentos de Imposto de Renda e IOF para investidores do tipo pessoa física, emitidos com o objetivo de financiar o setor agrícola. O CRA tem sido o papel que mais cresce em emissão atualmente, tendo destaque em 2020 com volume histórico emitido de R$ 15,7 bilhões, alta de 28% em relação a 2019.
Outras opções são investimentos de Renda Variável, como Fundos de Investimentos. Dentro desta categoria pode-se investir em uma empresa específica ou investir em fundos com ações de empresas nacionais e internacionais com receitas ligadas ao agronegócio. Ainda dentro dos investimentos de Renda Variável, estão os Fundos Imobiliários voltados para o agronegócio, que investem os valores em propriedades e projetos sustentáveis. Já existem no Brasil diversos fundos interessantes operando baseados em modelos de fundos americanos, tanto voltados para compra e operação de propriedades agropecuárias, como no segmento de armazenagem e logística.
Ainda sobre fundos, foi aprovado na semana passada (29), com vetos do presidente, o Fiagro (Fundo de Investimentos para o Setor Agropecuário). O Fiagro foi desenhado baseado nos Fundos de Investimentos Imobiliários (FII), que têm sido essenciais no desenvolvimento da construção e da incorporação de imóveis por meio de aplicações em CRIs (Certificados de Recebíveis Imobiliários), a intenção seria fazer o mesmo com os CRAs, do agronegócio. O Fiagro será apreciado pelo congresso e se espera que saia de uma forma interessante para o mercado investidor.
A nova geração de produtores está literalmente abrindo a porteira para o mercado de capitais. O Brasil tem cinco milhões de propriedades rurais e apesar da enorme estratificação, o setor como um todo vem passando por uma intensa modernização, investimento em tecnologia, logística, gestão financeira e de pessoas, que aceleraram a obtenção do profissionalismo e eficiência almejados pelo mercado financeiro.
Esta conexão entre o campo e a cidade criará uma simbiose, onde investidores terão oportunidade de investir em um setor sólido e pujante como o agro, enquanto se abre para as agroindústrias e produtores rurais uma nova possibilidade de financiamento para projetos sustentáveis.
Fonte: FORBES
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