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Inflação prejudica poder de compra de alimentos com dinheiro de benefício social

Na prática, segundo pesquisa, o valor do Auxílio Brasil deveria ser de R$ 732,12.

Inflação prejudica poder de compra de alimentos com dinheiro de benefício social
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Na semana que vem, o governo começa a pagar parcelas do Auxílio Brasil com valor aumentado. Mas, na prática, uma parte do poder de compra do benefício já foi comprometida.

Jessica da Silva é faxineira, tem dois filhos e está gravida de 8 meses, com o que recebe paga as contas da casa e sobra cerca de R$ 200 para alimentação da família. A despensa é sinal do aperto que eles têm passado.

 

“Arroz, fubá, farinha de trigo, macarrão instantâneo e o sal. É o que tenho para alimentar duas crianças mais eu”, relata.

 

Em julho, a menos de três meses da eleição, o governo conseguiu que o Congresso aprovasse uma lei para ampliar, de maneira temporária, as despesas com benefícios sociais. No caso do Auxílio Brasil, o benefício subiu de R$ 400 para R$ 600 até o fim do ano.

Essas despesas ficarão fora do teto de gastos do orçamento e do limite de endividamento do governo federal.

A família da Jessica é uma das 20,2 milhões cadastradas pra receber o Auxílio Brasil, antigo Bolsa Família. Dinheiro que vai fazer diferença para ela, mas não tanto. A inflação tirou poder de compra do benefício. A conclusão é de um estudo da Universidade Federal de Minas Gerais e da Fundação Getúlio Vargas.

Segundo os pesquisadores, o poder de compra do Auxílio Brasil de R$ 600 não é o mesmo que o de outro benefício, também de R$ 600, lançado há pouco mais de dois anos, o Auxílio Emergencial. Nesse período, a inflação foi de 22%, na prática, segundo os economistas, o valor do Auxílio Brasil deveria ser de R$ 732,12.

 

“Nós tivemos um processo inflacionário muito forte nos últimos dois anos, puxados tanto pelo setor de alimentação, transporte e habitação e que afeta mais pesadamente as classes mais baixas. Então, certamente esse valor está aquém. O que as pessoas conseguiam comprar há dois anos atrás com o auxílio emergencial não vai ser a mesma quantidade que eles vão conseguir comprar no momento atual”, explica o professor de economia da UFMG Rafael Ribeiro.

Desde abril de 2020, o preço dos alimentos deu um salto nas prateleiras. A batata-inglesa aumentou 71%; o feijão, 72%; alta de 84% no café moído e no óleo de soja o reajuste foi de quase 50%.

Números que, para os responsáveis pelo estudo, penalizam ainda mais as famílias pobres e em extrema pobreza, público desses benefícios sociais.

 

“Se o seu processo inflacionário está pegando mais itens alimentícios, ainda mais pesado fica para quanto menor for a sua renda porque você gasta mais em alimento e com esses preços subindo, você vai ter que gastar ainda mais. Então, vai chegando ao limite de você gastar quase 100% da sua renda só em alimentação”, diz o economista Matheus Peçanha.

 

O poder de compra que a inflação corroeu fará muita falta para família da Jessica.

 

“Meu coração corta. Tem dia que a gente tem, tem dia que a gente não tem principalmente o leite. Dói demais você não ter condição de dar pra seu filho pelo menos o básico, que é alimentação”, lamenta Jessica.
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