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Guerra liga alerta sobre fertilizantes no Brasil

O ataque da Rússia à Ucrânia pode gerar efeitos negativos para o agronegócio brasileiro e de Minas Gerais caso o conflito se estenda.

Guerra liga alerta sobre fertilizantes no Brasil
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  O ataque da Rússia à Ucrânia, iniciado em 24 de fevereiro, pode gerar efeitos negativos para o agronegócio brasileiro e de Minas Gerais caso o conflito se estenda. Um dos principais receios é em relação ao fornecimento de fertilizantes, já que a Rússia é um relevante produtor. Um possível interrompimento dos fluxos de comercialização e produção também pode interferir em outros produtos, como no milho e trigo, gerando aumento dos preços e, no caso do milho, impactando os custos da pecuária. 

  O especialista em Commodities da Terrra Investimentos Terra Investimentos, Geraldo Isoldi, explica que o conflito entre Rússia e Ucrânia tem afetado, direta ou indiretamente, todos os mercados mundiais, a começar pela relevância russa na oferta global de petróleo, o que, por si só, influencia com intensidade praticamente todos os ativos, mas no caso das commodities agrícolas muitas outras variáveis podem ser aplicadas.

“É importante salientar que, em um contexto pré-conflito, muitas das commodities agrícolas, como café, milho e soja, por exemplo, se encontravam em patamares de preços em recordes históricos, tornando a situação ainda mais delicada”, disse.

Isoldi explica que a influência do conflito começa pelos fertilizantes, que já iniciaram sua escalada no final de 2021, quando uma crise na Bielorrússia – um pequeno país do Leste europeu, mas responsável pela produção de um quarto do volume mundial de cloreto de potássio – fez com que os preços do produto mais que triplicassem no ano passado. O movimento, já naquela época, causou preocupações, principalmente, para a segunda safra de milho este ano. 

“A Rússia. além de grande exportador, também é uma das poucas origens de potássio no mundo, além de fornecer em larga escala para as lavouras do mundo também os outros dois macronutrientes essenciais, nitrogênio e fósforo. A forte alta dos contratos futuros de fertilizantes na Bolsa de Chicago indica o temor em relação à indisponibilidade dos insumos”.

  Na semana passada, a ministra da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, Tereza Cristina, já havia ressaltado que é preciso ter cautela equilíbrio frente à oferta de fertilizantes. Ela destacou que, na questão dos fertilizantes, já havia um problema acontecendo com a Bielorrússia, que também sofre sanções no momento, mas que o governo segue buscando alternativas para importações. 

“Acabei de voltar do Irã e temos alternativas. Os produtores devem ter em mente que temos estoque de passagem para passar este momento. Não existe problema urgente e iminente, mas estamos acompanhando e formulando planos. Já estávamos trabalhando com outras origens de fertilizantes e não aqueles tradicionais que sempre trabalhamos. A Rússia e a Bielorrússia juntas são muito importantes, principalmente, para nitrogenados e potássio. Potássio é o maior problema, por ser a molécula que nós importamos mais. Já trabalhamos com outras origens como Canadá, Chile, Qatar, Israel, Omã e Irã. Temos outros mercados para buscarmos e diversificar a origem. Estamos muito antenados e buscando alternativas”, explicou a ministra da Agricultura.  

O subsecretário de Política e Economia Agropecuária da Secretaria de Estado da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Seapa), João Ricardo Albanez, disse que é preciso acompanhar a evolução do conflito e que o bom senso deve prevalecer para que a solução ocorra o mais breve possível.

“Para Minas Gerais e o Brasil, a questão dos fertilizantes é preocupante. Temos uma dependência grande. Hoje, importamos 35% de potássio da Rússia. Então é um fornecedor expressivo, mas ainda é prematuro para falar sobre os efeitos dos impactos”, ponderou. 

A coordenadora da Assistência Técnica da Federação da Agricultura e Pecuária do estado de Minas Gerais (Faemg), Aline Veloso, também ressalta a importância da Rússia em relação ao fornecimento de fertilizantes e a necessidade de o Brasil investir em formas de reduzir a dependência. 

“No que se refere aos fertilizantes, a Rússia e a Bielorrússia são importantes fornecedores, assim como de petróleo, que é combustível e insumo para a produção de fertilizantes. São muito fortes no mercado internacional e nossa agropecuária depende destes produtos. Existem recentes iniciativas e é um pleito do setor o fomento à produção de fertilizante e insumos para a agropecuária no País. Isso é fundamental e estratégico”, disse Aline. 

Commodities devem ter instabilidade em preços

  O conflito entre Rússia e Ucrânia pode impactar diversas commodiites agrícolas. Dentre aquelas produzidas em Minas Gerais, segundo o especialista em Commodities da Terra Investimentos, Geraldo Isoldi, o café, que vem sofrendo com um forte aperto na oferta em consequência dos problemas climáticos enfrentados no ano passado aliado a um aumento do consumo pós-abertura das economias em razão da pandemia, principalmente na Europa, manteve níveis recordes acima dos US$ 300 por saca durante várias sessões na B3. 

“Mas, na quinta-feira, 24 de fevereiro, a aversão ao risco somada ao temor de uma nova retração do consumo caso os conflitos tomassem proporções maiores fez com que as cotações caíssem mais de US$ 10 por saca, para US$ 290 por saca, enquanto na Bolsa de NY, a ICE (Intercontinental Exchange), a queda foi de 3,04%. As variáveis relacionadas à oferta, como os baixos estoques e produção, seguem firmes, mas a expectativa de melhora no consumo foi colocada de lado e deve voltar a atuar apenas quando os participantes do mercado sentirem que o conflito não tomará maiores proporções, para que então os preços voltem a subir”, explicou.

  Mais diretamente afetados, segundo Isoldi, estão os grãos. Segundo ele, a chamada região do Mar Negro (Black Sea) é uma participante importante na oferta mundial, sendo responsável por 20% da exportação global de milho e 28% da de trigo. 

“Estas culturas, que, em muitos casos, são concorrentes em área de plantio, resultam em uma fiel correlação de preços, onde uma “leva de carona” os preços de outra e afetando ainda os preços da soja, também levados pelo preço do óleo, já que a região também responde por 60% da produção mundial de óleo de girassol e 76% das exportações. Em uma situação em que a oferta e estoques globais foram afetados pelos problemas climáticos brasileiros em 2021 e a seca enfrentada pelos estados do Sul no começo deste ano, os preços foram levados às alturas na Bolsa de Chicago, com as cotações de soja atingindo os maiores preços em 12 anos e o maior preço do trigo desde 2008, com o milho também negociado em preços históricos”, disse.

  Já a carne bovina segue sem maiores preocupações, já que a região responde por menos de 2% das compras de carne bovina brasileira. “No entanto, um distante, mas possível envolvimento da China nos conflitos poderia levar à situação de setembro de 2021, quando nosso principal comprador externo embargou a carne brasileira e levou os preços da arroba bruscamente para baixo, deixando o setor em situação sofrível por alguns meses”, disse.

  Para a coordenadora da Assistência Técnica da Federação da Agricultura e Pecuária do Estado de Minas Gerais (Faemg), Aline Veloso, a valorização dos grãos, principalmente do milho, também pode impactar os custos da pecuária, que já estão bastante elevados. 

“É bem delicada a situação. Internamente já estamos com praticamente todas as produções com os custos altos. Fica a questão, ainda que tenha estímulo internacional de alta, do dólar elevado, que o conflito é mais um ponto de atenção para a pecuária. Importante reafirmar a importância da nossa atividade na melhora das pastagens, busca por outras forrageiras e alternativas de alimentação”, completou.

Russos ocupam 12º lugar entre embarques de Minas

  No que se refere aos embarques do agronegócio feitos por Minas Gerais, a Rússia ocupa a 12ª posição entre os países que negociam com o Estado. Conforme os dados levantados pela Secretaria de Estado da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Seapa), em 2021, a receita gerada com os embarques para o país somou U$$ 131 milhões, o que representa 1,2% do total alcançado no ano, que foi de US$ 10,5 bilhões. 

  Os principais produtos comercializados com a Rússia, no último ano, foram o café (US$ 97 milhões), o açúcar (US$ 9 milhões), as rações para animais (US$ 9 milhões), as carnes bovinas (US$ 4 milhões) e de frango (US$ 4 milhões) e os queijos (US$ 5 milhões). 
Já em janeiro de 2022, as exportações de café para o país atingiram o valor de US$ 18 milhões, com 78 mil sacas.

“O conflito é um fator extremamente preocupante, pois desestrutura as relações de comercialização. Todo parceiro comercial para Minas Gerais tem sua relevância. A Rússia hoje tem uma participação de 1,2%, mas é um mercado que há muito anos tivemos participação maior. Todo parceiro deve ser valorizado. A Ucrânia tem participação menor, no ano de 2021 não fizemos importação deles, mas precisa medir quanto à instabilidade da região e como o mercado vai reagir à insegurança. Será preciso acompanhar a evolução dos fatos, imaginando que o bom senso pode prevalecer para ter a solução o mais breve possível”,

Disse o subsecretário de Política e Economia Agropecuária da Secretaria de Estado da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Seapa), João Ricardo Albanez. 

  Ainda segundo os dados da Seapa, a Ucrânia ocupou, em 2021, a 64ª posição na lista de compradores do agronegócio mineiro. No último ano, o país adquiriu 10 mil toneladas de produtos do Estado, pelo valor de US$ 12,5 milhões. A receita representa 0,1% do montante alcançado por Minas.

  Os principais produtos embarcados para a Ucrânia, no ano passado, foram café (US$ 6,2 milhões), carne bovina (US$ 4 milhões) e açúcar (US$ 2 milhões). Em janeiro de 2022, houve registro de vendas de café, com 5 mil sacas, por US$ 1,5 milhão. 
Em relação às importações, Minas Gerais movimentou  US$ 1,05 bilhão em adubos e fertilizantes ao longo de 2021, sendo 35%, o equivalente a US$ 369 milhões, provenientes da Rússia, em especial os nitrogenados e potássicos.
Os demais fornecedores em ordem de valor são Canadá (9%), EUA (8%) e Bielorrússia (6%). Não há registros de importação mineira de fertilizantes da Ucrânia.

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