Em 2020, o torcedor do Atlético-MG viu a construção de um time agressivo, que tentava dominar a posse de bola, sufocava o adversário até fora de casa. Mas a pandemia impediu que o Galo de Jorge Sampaoli fosse apreciado nas arquibancadas. Com Eduardo Coudet, a torcida poderá ver de perto uma equipe que promete características parecidas.
Chacho é mais um argentino no banco de reservas do Atlético. E tem um perfil bem diferente de Turco Mohamed, seu antecessor entre os gringos, ainda que os dois possam ser chamados de "boas praças". Coudet é agitado, obcecado, mais sanguíneo. Não é por acaso que na Argentina há uma gíria específica para classificar personagens como ele: são os "loco lindos".
A pré-temporada do Atlético-MG começou nesta quarta-feira. Coudet foi apresentado ao grupo de trabalho pelo presidente Sérgio Coelho e o diretor de futebol Rodrigo Caetano. A princípio, serão 26 atletas à disposição. Mas ainda irão chegar reforços. Edenilson, Bruno Fuchs e Igor Gomes estão a caminho. Pelos próximos 10 dias, Chacho irá acordar e sentir o cheiro da grama dos campos da Cidade do Galo, morando no hotel do CT.
"É um cara que conheço, já trabalhei. Sei do nível de treinamento dele. Vocês terão a oportunidade de conferir isso nos jogos" (Rodrigo Caetano, sobre Chacho Coudet)
Ele e sua comitiva se juntam à comissão fixa do Atlético para projetar e já trabalhar em cima da temporada 2023, com Campeonato Mineiro, Copa Libertadores (segunda fase), Copa do Brasil e Campeonato Brasileiro. É o retorno de Coudet ao Brasil, após deixar o Internacional em novembro de 2020 em meio ao início do returno da Série A, quando o Colorado era líder do Brasileiro. Campeão pelo Racing em 2019 na Argentina, ele tem uma dívida a pagar com os pontos corridos daqui.
Nas primeiras impressões de Coudet no Atlético, quem esteve presente no CT garante que sentiu um treinador muito trabalhador, que trouxe profissionais qualificados ao seu lado e está bastante empolgado com o atual elenco do Galo, que ainda ganhará peças. Nesta quinta-feira, Chacho será apresentado oficialmente ao torcedor do Atlético, às 11h, e o ge separou alguns capítulos da sua trajetória para que o atleticano possa entender qual é a personalidade do argentino de 47 anos.
A "atajada" imortal
Na semifinal da Copa Libertadores de 2004, Boca e River Plate se encontraram na semifinal. A primeira partida foi na Bombonera. O Boca vencia por 1 a 0, e, aos 94', Carlitos Tévez cobrou uma falta perto da grande área. Chacho Coudet, fora da barreira, se atirou na bola, num estilo kamikaze. Bloqueou o chute, com a ajuda do braço, e impediu um possível gol. Pênalti claro. O árbitro nada marcou, e a torcida do Boca ficou maluca.
No jogo de volta no Monumental, o River venceu por 2 a 1, e a disputa foi para os pênaltis, com o Boca passando para a final que seria vencida pelo Once Caldas. Na ida do ônibus do River Plate para o estádio, os jogadores levaram bandeiras, bumbos e fogos artificiais. Chacho teve a ideia de abrir a janela central do ônibus e soltar os fogos, só que eles saíram no sentido reverso. "Antes de chegar ao estádio, quase saímos machucados", disse o volante Lucho González.
Coudet viveu o auge como jogador do River Plate, entre 1999 e 2004, foi campeão cinco vezes na Argentina. Compartilhou vestiário com Bonano, Gallardo, Aimar, Saviola, Ayala, D'Alessandro, Cavenaghi, Maxi López, entre outros. Quando defendia o time de Núñez, seu pai, Gerardo, era dentista do Boca Juniors. O Xeneizes era o clube do coração de Coudet na infância.
Punição inédita
Em um jogo Central x Boca (sempre o Boca), Eduardo Coudet simplesmente deu uma voadora naqueles túneis infláveis de entrada dos jogadores, derrubando os rivais de Buenos Aires que o provocaram na partida anterior entre os clubes. Levou punição de um jogo pelo gesto.
- Me falaram que não havia antecedentes. Imagina: voadora no túnel inflável! Não sabiam como me punir - afirmou.
Chacho chegou também a receber seis jogos de gancho nos Estados Unidos, por empurrar um árbitro quando jogava pelo Fort Lauderdale Strikers, seu último clube na carreira profissional de jogador que terminou em 2011.
Fanatismo pelo Rosário Central
Coudet foi revelado em 1993 pelo Platense, clube que estava na Primeira Divisão, e revelou David Trezeguet. Em 1995, aos 21 anos, se transfere ao Rosário Central. Uma identificação absoluta. Foi campeão da Copa Conmebol em cima do Atlético na final. E se tornou um exímio torcedor "canalla", com provocações dia após dia ao Newell's Old Boys, chamando os torcedores rivais de "pecho frío", uma ofensa à contumaz raça argentina.
A ligação de Coudet com o Central é tamanha e exemplificada em outras passagens folclóricas. Em 2002, já no River Plate, foi atuar contra o Rosário no Gigante de Arroyito. No placar eletrônico, um agradecimento: "Ao jogador Chacho Coudet, de todas as filiais da nossa instituição". Chacho foi substituído no segundo tempo, tirou a camisa do River de jogo, e, por baixo dela, uma camiseta do Central com todo seu suor. Para delírio da torcida.
Coudet ainda voltou ao Rosário Central para a segunda passagem, mas logo foi ao San Lorenzo, time do Papa Francisco, onde também atuou por dois períodos. No time de Almagro, uma cláusula foi imposta pelo volante: não poderia ser escalado para jogar contra a equipe amarela e azul. A anti-lei do ex.
Coletivas de imprensa
A relação de Chacho Coudet com os jornalistas tem episódios engraçados em coletivas de imprensa. Em 2019, pelo Racing Club, um jornalista indagou por que o técnico tirou o centroavante Lisandro López e colocou o zagueiro Alejandro Donatti. Coudet disse que iria explicar, mas faria uma aposta. "Se você, ao final da minha explicação, falar 'Donatti', terá que me pagar uma caixa de batatas fritas".
- Contra Lanús (jogo anterior), sabe quantos cruzamentos na área tomamos? Sabe? 30! Então coloquei Donatti para dar força aérea. Agora, estávamos tomando bombardeio. Me diga, quem você colocaria para ajudar a segurar o resultado?
- Donatti - respondeu o jornalista, que foi correndo comprar as batatas fritas no estádio de Avellaneda.
Já em 2021, pelo Celta de Vigo, Coudet estava entediado em casa. Sem a presença da mulher e dos filhos, e cansado de conversar através do computador, Chacho foi para a coletiva de imprensa e bem afável nas perguntas: "Vou usar vocês (jornalista) como psicólogos".
A primeira "sessão de terapia" está marcada para esta quinta-feira (15/12), poucos dias antes do aniversário do primeiro título brasileiro do Galo, em 19 de dezembro de 1971, que foi o mesmo dia em que o Central venceu o NOB na famosa "palomita de Poy", jogada lendária do clube de Coudet, e também no mesmo dia e mês que o Rosário venceu o Atlético por 4 a 0 na final da Conmebol e levou a decisão nos pênaltis, com Coudet passando a madrugada do título no Arroyito, conta a lenda.
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