A região de São Sebastião, uma das mais afetadas pelas inundações e deslizamentos no litoral norte de São Paulo, recebeu 640 mm de chuva em 24 horas.
O volume é mais de três vezes maior que o registrado em 2014, quando choveu 179 mm em dez horas - o evento climático mais extremo da história recente do município, conforme relatório do Instituto de Pesquisas Tecnológicas (IPT).
Elaborado em 2018 e divulgado no ano seguinte, o documento, chamado de Plano Municipal de Redução de Riscos para São Sebastião, mapeou as principais áreas vulneráveis, os riscos de inundações e dos chamados “movimentos de massa", termo que engloba vários tipos de instabilidade de solos, rochas e detritos, entre eles os deslizamentos.
Além do diagnóstico, ele traz recomendações de ações para mitigação das ameaças, que, conforme Fabrício Araújo Mirandola, diretor técnico da Unidade de Negócios em Cidades, Infraestrutura e Meio Ambiente do IPT, vinham sendo observadas em São Sebastião nos últimos anos.
"Temos conhecimento de que o município vinha atuando no planejamento e na gestão dos riscos, com implementação de medidas estruturais e não estruturais e na regularização fundiária de alguns bairros", disse, por e-mail, à reportagem da BBC News Brasil.
Para ele, eventos climáticos como os que afetaram a região nos últimos dias "são esporádicos e difíceis de prever, como no caso dos terremotos".
"As prefeituras dos municípios atingidos estavam com equipes em alerta e prontidão, e estas fizeram diversos atendimentos emergenciais desde o início das chuvas. Esse fato, sem dúvida, salvou diversas vidas", afirmou, acrescentando que a média de chuvas para o mês de fevereiro inteiro na região é de 225 mm.
"Ou seja, em 24 horas tivemos três vezes o volume de chuvas esperado para 28 dias."
O IPT tem no momento duas equipes em campo nas áreas afetadas, em São Sebastião e em Ubatuba.
'Certificado de resiliência'
Na manhã de segunda (20/2), técnicos do instituto, junto com a Defesa Civil, sobrevoaram parte da rodovia SP-055 (trecho da BR-101 conhecido como Rio-Santos) para elaborar um diagnóstico geológico-geotécnico das situações mais críticas e identificar os bairros e núcleos que acabaram ficando isolados devido às dezenas de deslizamentos ocorridos ao longo da estrada.
O governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), afirmou na noite de segunda que a rodovia tem dez pontos de bloqueio e que alguns de seus trechos podem ter sido arrastados pelas enxurradas.
Até o momento, há 40 mortos - 36 em São Sebastião -, mais de 40 desaparecidos e centenas de desalojados e desabrigados.
O município é um dos 66 em São Paulo que receberam neste ano um "certificado de resiliência", dado com base em indicadores de gestão de risco e desastres no âmbito do Programa Município Resiliente, criado em 2019 pelo governo do Estado.
Conforme a Secretaria de Infraestrutura e Meio Ambiente de São Paulo, o programa é uma da iniciativas colocadas em prática para tentar fazer frente à "crise climática global, que está cada vez mais grave, tem causado ocorrências mais frequentes de eventos extremos como deslizamentos, inundações, erosão acelerada e tempestades, e tem afetando gravemente populações em situação de vulnerabilidade, socioeconômica e ambiental".
A reportagem tentou contato com a Prefeitura de São Sebastião para conversar sobre os eventos climáticos extremos dos últimos anos, sobre a implementação do plano de redução de riscos e sobre os alertas de temporais na região nos últimos dias, mas não obteve retorno.
A forte chuva registrada no município em 2014, que ocorreu na madrugada de 23 de dezembro, bloqueou trechos da Rio-Santos e também provocou deslizamentos, alagamentos e isolou praias em São Sebastião.
O relatório do IPT traz a análise de que o episódio atingiu "excepcional gravidade provavelmente porque combinou a ação de diversos fenômenos: maré alta, alagamento por insuficiência da rede de microdrenagem e, considerando a topografia acidentada da região, enxurradas produzidas por precipitações em regiões montanhosas".
O documento mostra ainda o cálculo do chamado "período de retorno", que é o "o intervalo de tempo médio em anos que um determinado evento é igualado ou superado ao menos uma vez", e conclui que eventos como esse podem frequentes e que "medidas devem ser tomadas no sentido de prover sistemas de alerta e de contingência, de modo a evitar consequências danosas, sobretudo à população mais vulnerável".
À BBC News Brasil, Mirandola afirmou que um novo estudo deve ser realizado após o evento climático do fim de semana, já que dados novos de entrada - especialmente quando estão fora da média pluviométrica - são relevantes para se definir o período de retorno.
Saiba como ajudar as vítimas das chuvas no Litoral Norte de SP
Cidades de São Paulo, com o auxílio de diversas instituições, estão arrecadando doações para ajudar as famílias afetadas pelas fortes chuvas que atingiram de forma mais severa o litoral norte do Estado, neste fim de semana.
Saiba como fazer a sua doação:
O Fundo Social de São Paulo, órgão do governo estadual recebe doações para as vítimas das chuvas. De acordo com a Defesa Civil, os itens de maior necessidade são alimentos não perecíveis, água mineral e roupas limpas e em bom estado de uso.
Onde doar: Av. Marechal Mario Guedes, 301 — Jaguaré, Zona Oeste
Horários de arrecadação: segunda-feira, das 12h às 17h; demais dias, das 8h às 17h
O Instituto Verdescola e o Instituto Conservação Costeira estão arrecadando colchão, lençol, toalha, água sanitária, água mineral, roupas para crianças e adultos, produtos de higiene pessoal e alimentos não perecíveis. É possível entregar os itens na sede do Instituto Verdescola (avenida Marginal, 44 – Praia Barra do Sahy, São Sebastião) ou doar via Pix (verdescola@verdescola.org.br).
A Gerando Falcões organiza a campanha “Tamojunto”, que recebe doações via Pix, por meio do CNPJ 18.463.148/0001-28. A ONG acrescentará R$ 1 a cada R$ 1 doado, com limite de R$ 1 milhão.
A LBV (Legião da Boa Vontade) realiza a campanha “SOS Calamidades”, que arrecada alimentos e materiais de higiene. Há pontos de coleta em São Paulo e em Santos, e os itens serão encaminhados à Defesa Civil. Veja os endereços:
São Paulo: avenida Rudge, 898 – Bom Retiro
Telefone: (11) 3225-4530
Santos: avenida Conselheiro Nébias, 398 – Encruzilhada
Telefone: (13) 3202-0081
Também é possível doar dinheiro via Pix (pix@lbv.org.br).
A Ação da Cidadania recebe doações via Pix (sos@acaodacidadania.org.br) ou por meio de transferência para as contas da ONG no Banco do Brasil (agência 1211-4 e conta corrente 500.537-X) e no Itaú (agência 0417 e conta corrente 65638-6).
A Cufa (Central Única das Favelas) e a Frente Nacional Antirracista organizam a campanha “S.O.S. São Paulo”, que recebe doações via Pix (doacoes@cufa.com.br) ou por meio de transferência bancária para as contas da Cufa no Bradesco (agência 0087 e conta corrente 3582-3) e no Itaú (agência 0402 e conta corrente 17369-4). Roupas, colchões e alimentos não perecíveis podem ser entregues nas unidades da Cufa de São Paulo, sobretudo nos pontos localizados no litoral norte e Baixada Santista. Mais informações podem ser obtidas pelo telefone da coordenação da Cufa na Baixada Santista: (13) 99720-2382.
A Cruz Vermelha de São Paulo aceita doações via Pix (soschuvas@cruzvermelhasp.org.br) e recolhe água mineral, alimentos não perecíveis, roupas e colchões em sua sede, localizada na avenida Moreira Guimarães, 699 – Indianópolis, na zona sul da capital.
O Fundo Social da Prefeitura de Caraguatatuba recolhe material de limpeza —neste momento, a demanda mais urgente é por saco de lixo, detergente, álcool 70%, desinfetante, cloro, sabão em pó, esponja, vassoura, rodo, pano de chão e balde—, além de itens de higiene pessoal (principalmente sabonete, escova de dente e creme dental), roupas infantis, femininas e masculinas, e roupas de cama e banho no Cemug (Centro Esportivo Ubaldo Gonçalves), localizado na avenida José Herculano, 50 – Jardim Britânia.
A Prefeitura de Ilhabela arrecada colchões, mantas, fogão, materiais de limpeza e produtos de higiene pessoal na sede do Fundo Social (rua Guaiamu, 56 – Perequê). Mais informações podem ser obtidas pelo telefone (11) 99932-7150.
A Prefeitura de Guarujá recebe doações de roupas, produtos de higiene e alimentos não perecíveis no Ginásio Tejereba, na rua Silvio Daige – Jardim Tejereba.
Fonte: BBC BRASIL
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